Tuesday, April 25, 2006

25 de Abril



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Um jornalista frances que visitou Portugal em Maio de 1927 da'-nos uma boa imagem desse periodo: Esta ditadura tem um caracter sui generis, o comando exerce-se de baixo para cima. Sao os 'sovietes de tenentes' que se impoem aos generais e ditam a politica. Nos regimentos, cada messe de oficiais e' um parlamento, onde quem tem mais autoridade nao e' quem tem mais galoes. De tempos a tempos ve-se um grupo de oficiais e subalternos subir as escadas de um ministerio. Parecem muito contentes de si mesmos. E' uma comissao de tenentes que vai dar as suas ordens. E' o regime 'ditatorial' em accao."
(...) Toda a divergencia politica era considerada um atentado a' ordem publica e todo o contacto com os homens que nos anos anteriores tinham governado o Pais eram suspeitos. foi estabelecida a censura previa.(...)
Os gastos militares aumentaram muito e o defice tornou-se alarmante. (...)
(...) A questao financeira levou a chamar ao Governo um professor de financas da Universidade de Coimbra, Antonio de Oliveira Salazar. "Sei muito bem o que quero e para onde vou". (...) Em 1932 foi nomeado presidente do Conselho de Ministros e escolheu um ministerio com maioria de civis; os generais comecaram entao a ser substituidos por professores da Universidade.
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A Constituicao de 1933 representa um regresso a' atitude politica da Carta Constitucional, (...) O novo texto constitucional era fortemente influenciado pela reaccao contra o parlamentarismo (...), mas ao passo que esta nesta ultima se dizia que a soberania se devia exercer atraves de tres orgaos (poder legislativo, executivo e judicial), a primeira mencionava quatro orgaos (chefe de Estado, Assembleia Nacional, Governo e tribunais).
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O chefe de Estado deixava de ser um elemento do poder para ser um poder proprio, que se situava acima dos outros tres poderes. (...) O funcionamento dos partidos nao foi autorizado. Para mobilizar a opiniao eleitoral criou-se a Uniao Nacional, que pretendia enquadrar todos os que quisessem intervir nas actividades politicas.
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A oposicao activa refugiou-se em formas clandestinas, cujas actividades foram perseguidas. A censura previa a' imprensa nunca mais foi levantada.(...) A proibicao de oposicao organizada, o controlo da imprensa e a forte personalidade do Dr. Salazar explicam a longa estabilidade quer dos homens quer das orientacoes.
(...) A chefia do Governo foi exercida pelo Dr. Salazar durante trinta e seis anos ate que a doenca o inutilizou, em 1968. O seu sucessor, Prof. Marcelo Caetano, chefiou o Governo mais cinco anos, ate a' revolucao.
Os aspectos mais salientes desse quase meio seculo de historia portuguesa sao, no plano interno, a reorganizacao geral da administracao e o exercicio do governo em termos autoritarios e os planos de obras publicas e de fomento economico; no plano externo, a energica oposicao da indepencia politica e economica de Portugal perante o jogo dos interesses externos e a luta militar e diplomatica para a defesa do Ultramar. (...)
Em 25 de Abril de 1974, um movimento das forcas armadas derrubou o regime e marcou o inicio da Terceira Republica.

Estes excertos foram retirados do livro "Historia Concisa de Portugal", de Jose Hermano Saraiva, 22 edicao, Publicacoes Europa-America.